Logística Reversa
INTRODUZINDO: SUSTENTABILIDADE E LOGÍSTICA REVERSA
“Jogue o lixo fora”. Comumente, escuta-se essa frase que o lixo deve ser jogado fora. Porém, o que é o lixo? E onde é fora?
A palavra que se utiliza no dia-a-dia mostra um significado para o lixo como sendo algo a ser desprezado, que deve ser colocado longe das pessoas, pois, representa algo inútil, nocivo e sem valor. Assim, ele é colocado em um ambiente sem o convívio regular de humanos e escondido além dos limites urbanos da cidade.
Porém, o que o lixo realmente representa na nossa sociedade? E nossos problemas são resolvidos com alocação deles fora do alcance dos nossos olhos? Cá entre nós, sabemos que compartilhamos de um bem em comum que é o planeta Terra e somos conscientes dos recursos naturais que nos permite alimentar e viver. Estamos inseridos em um sistema extremamente interligado que regula diversos processos essenciais para manutenção da vida como conhecemos hoje. Assim, onde é esse fora em que jogamos tudo aquilo que não nos agrada?
Os questionamentos são essenciais para entender como nossa sociedade trata os recursos naturais e como nossos meios de produção são obsoletos frente ao aos diversos desafios a serem enfrentados, a fim de evitar que os limites da Terra sejam ultrapassados.
Primeiramente, é importante definir alguns conceitos importantes para iniciar essa mudança de paradigma a respeito de como tratamos e chamamos as “coisas”. A palavra lixo, como anteriormente citado, conta a algo sem utilidade e, portanto, desprezado. A palavra “resíduo” surge em contraponto a essa ideia, com uma certa formalidade, a palavra ainda sugere que algo pode ser inútil para uns, para outros corresponderá a benefícios por meio da revalorização do material. Por fim, esgotados todos os meios de tratamento e recuperação, pode-se então ser considerado rejeito o que não apresenta outra possibilidade a não ser a disposição final ambientalmente adequada.
Desde a Revolução Industrial (1760-1820/1840), com a transição de métodos de produção artesanais para a produção por máquinas, a sociedade enfrentou mudanças drásticas em um contexto que os produtos passaram a serem produzidos em larga escala e o consumo altamente estimulado. Eventualmente, a crença que os recursos naturais, matéria-prima para produção, eram inacabáveis devido às grandes quantidades que estes eram encontrados na natureza. Com o tempo, somado à evolução dos meios de produção e às inovações tecnológicas, o cenário mudou drasticamente mostrando inicialmente os crescentes desastres ambientais juntamente com a escassez de recursos.
Desde então, o tema “Meio Ambiente” passou a incorporar os debates entre os governos, as empresas e a sociedade tendo como marco inicial a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano em Estocolmo, na Suécia em 1972, tendo como principal enfoque os problemas ambientais e sua relação com a sociedade e o vínculo entre o meio ambiente e o desenvolvimento. Essa relação, direciona a discussão para o que se entende por sustentabilidade. O conceito busca a harmonização entre a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a evolução tecnológica e a mudança institucional a fim de atender às necessidades presentes e futuras.
Outro grande encontro foi a ECO-92 – Conferência sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, no Rio de Janeiro, em que foi consolidado o conceito de desenvolvimento sustentável, discutida em Estocolmo, como sendo a capacidade de prover crescimento e suprir as necessidades da geração presente sem afetar a habilidade das gerações futuras.
O evento mais recente e em foco, foi a COP26, sigla para Conferência das Partes. É um encontro anual, parte da Convenção Quadro da ONU, que reúne 197 nações para discutir as mudanças climáticas e o que cada país está fazendo para combatê-la. Os debates giram em torno das metas traçadas no Acordo de Paris 2015, a principal é manter o aumento da temperatura média do globo “bem baixo” de 2 ºC e tentar limitá-la a 1,5 ºC em relação aos padrões pré-industriais. A temperatura atual é de 1,2 ºC.
Com o aprimoramento e amadurecimento do conceito de sustentabilidade, as práticas sustentáveis passaram a incorporar o ambiente empresarial, e novas ferramentas de gestão foram desenvolvidas a fim cumprir a agenda ambiental e gerar vantagem competitiva. Importante salientar, que as vantagens não estão diretamente ligadas aos custos inerentes, e sim à preocupação com as futuras gerações. Isso ocorre devido ao fato de que incorporar novas tendências no processo produtivo e repensar o design leva a diferentes padrões já consolidados, isso geralmente leva a maiores custos antes se tornar um novo padrão.
Incorporar a sustentabilidade no processo de desenvolvimento demanda limitação da escala econômica à capacidade natural de forma que as taxas de coletas de recursos naturais estejam limitadas às taxas de recuperação desse mesmo recurso e também que a geração de resíduos não ultrapasse a capacidade do ambiente em absorvê-los, garantindo sua disposição adequada.
A sustentabilidade apenas passou a ser consideradas ao passo que restrições comerciais surgiram, exigindo o cumprimento de tais obrigações. Consequentemente, as empresas se viram diante de novos processos de produção acoplado com a responsabilidade pelos resíduos gerados ao fim da cadeia de suprimentos, que por sua vez implica em maiores investimentos.
Para isso, o conceito de Gestão Ambiental surge trazendo medidas e procedimentos com o principal objetivo de reduzir, controlar e mitigar os impactos ambientais gerados pelas atividades econômicas. Uma boa gestão ambiental promove a melhoria contínua e a manutenção da sustentabilidade nos negócios. A ABNT NBR 14001 normatiza o Sistema de Gestão Ambiental e estabelece os critérios para certificação.
Há diversas maneiras de incorporar o conceito de sustentabilidade nos bens de consumo e serviço, porém é necessário reconsiderar a utilização dos recursos naturais e os interesses da comunidade, e extrair vantagens competitivas desta situação, através da utilização de tecnologias mais efetivas em prol do meio ambiente.
No Brasil, um dos grandes marcos sobre o tema veio a partir da aprovação da Lei federal nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). A lei distinguiu resíduos (aquilo que pode ser reaproveitado ou reciclado) de rejeitos (não passível de reaproveitamento), considerando os segmentos domésticos, industrial, agrosilvopastoril, eletroeletrônico, de construção civil, de produção de lâmpadas com vapores de mercúrio, de saúde e relacionando produtos perigosos. A legislação disciplina e orienta empresas e poder público sobre suas responsabilidades para a destinação das embalagens e produtos pós-consumo, e determina que os fabricantes devem responsabilizar-se pela logística reversa e destinação final ambientalmente correta. A Política Nacional de Resíduos Sólidos, é muito incisiva ao incorporar uma ordem de prioridade, sendo:
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Não geração.
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Redução;
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Reutilização;
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Reciclagem;
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Tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
A ferramenta de gestão com enfoque na diminuição de resíduos sólidos em disposição final, foi justamente consolidada com o conceito de logística reversa tendo como objetivo, operacionalizar o retorno dos resíduos de pós-venda e pós-consumo ao ambiente de negócios e/ou produtivo, considerando que somente dispor resíduos em aterros sanitários, controlados ou lixões não soluciona o problema do descarte. A abordagem propõe que os resíduos não sejam simplesmente descartados.
Quando se tratar de resíduos perigosos, novas variáveis surgem, pois, o descarte irregular pode causar danos irreparáveis ao meio ambiente, contaminação de corpos hídricos e morte de seres vivos. Consequentemente, os órgãos governamentais a fim de evitar ocorrências de envenenamento, manuseio inadequado e destinação adequada, criam políticas específicas para esses resíduos.
O Art. 33 da Política Nacional de Resíduos Sólidos é bem específica quanto aos materiais que devem ser submetidos à logística reversa.
Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de:
I – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduos perigoso, onservadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previtas em lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgão do Sisnama, do SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;
II – pilhas e baterias;
III – pneus;
IV – óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V – lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
VI – produtos eletrônicos e seus componentes;
Antes de embarcar nos conceitos envolvidos na Logísticas reversa, é importante ter um panorama conciso sobre a logística direta.
Logística Direta
Etimologicamente, logística vem do grego logistikḗ que significa relativo ao cálculo, que diz respeito ao raciocínio. A palavra passou a ser amplamente utilizada principalmente ao descrever a movimentação, demanda de suprimentos e manutenção de forças militares em períodos de guerra. Justamente pela necessidade de precisão em gerenciar e coordenar essas atividades o que demandava noções de lógica para prever e lógica.
A logística em si tem seu princípio fundamentado nas atividades de movimentação e armazenagem, que facilitam o escoamento de produtos ao longo de uma cadeia de suprimentos (CS), desde a matéria-prima até a sua disposição final (BALLOU, 2007). Assim, a logística direta trata de gerenciar estrategicamente na empresa a aquisição, movimentação e armazenagem de matéria-prima, além dos fluxos de informação recíprocos, através da organização de seus canais de marketing, tornando possível a maximização das lucratividades presentes e futuras por meio do atendimento dos pedidos dos clientes a custos reduzidos.
No princípio da sociedade muitas atividades econômicas eram baseadas apenas para as necessidades de sobrevivência das populações locais. Os produtos de consumo eram geralmente produzidos em lugares específicos e disponibilizados somente em determinadas épocas do ano, em quantidades suficientes apenas para atender as necessidades imediatas. Não havia diversidade de produção. Existia a falta de uma logística integrada, e o consumo dessas mercadorias era feito nos pontos de coleta ou então transportadas por meios próprios dos consumidores, para locais onde pudessem ser armazenadas, mesmo de forma precária (BALLOU, 2001).
Tudo o que era produzido em um dia, porém não vendido, era transformado em estoque e armazenado para posteriormente ser transportado ao local de consumo. Aí já se notava a necessidade de conservação e controle de tais itens de forma a preservá-los até o consumo ou utilização final. A logística, em sua concepção inicial, consistia no simples ato de entregar o produto solicitado, no lugar solicitado, dentro de um determinado intervalo de tempo.
A logística direta é um conceito já bem conhecido e consolidado, que trata do fluxo, nos quais os produtos saem dos fornecedores e são direcionados até os diversos clientes, constituindo-se em um processo divergente.
Origem da Logística Reversa
O start para o repensar da dinâmica empresarial, que visava apenas redução de custos e maximização de lucro, se deu a partir da crescente preocupação ambiental e social devido ao aumento da velocidade de descarte dos produtos decorrente da baixa durabilidade dos produtos e da rápida inovação, que torna um produto obsoleto em um curto espaço de tempo. Primeiramente, o descarte irregular de resíduos pode gerar poluição hídrica e visual, contaminação do solo, obstrução da infraestrutura urbana ocasionando inundações, proliferação de endemias e consequentemente, riscos à saúde humana. Concomitantemente, com o valor agregado que os resíduos podem possuir, as empresas encontraram vantagem competitiva ao se voltar para as ações que as tornariam ambientalmente e socialmente responsáveis perante a sociedade.
De acordo com a pesquisa Green Brands Global Survey de 2009, 73% dos brasileiros planejam aumentar seus gastos com produtos e serviços verdes e 28% deles (e apenas 8% dos britânicos) estão dispostos a gastar até 30% a mais em produtos e serviços verdes e valorizar empresas que possuam práticas ambientalmente adequadas. Com maior sensibilidade ecológica da população, o poder público se obriga a criar novas legislações ambientais a fim de incorporar as necessidades atuais.
Fica claro que quanto melhor a estratégia no processo de planejar, executar e controlar eficientemente o transporte, a movimentação e o armazenamento de produtos, melhor a garantia da integridade e os prazos de entrega das empresas no menor tempo e custo possíveis.
Dentre os principais motivos para do retorno ocorrem devido ao retorno de mercadorias, devoluções por problemas relativos à garantia ou à qualidade; retorno de embalagens e/ou materiais de auxílio no transporte, o que se dá, por exemplo, com as embalagens secundárias e terciárias, como paletes e engradados de cerveja; retorno de estoque, ocorridos em razão de erro de expedição, excesso de estoque, mercadorias em consignação, liquidação de estação de vendas, pontas de estoque, eliminação de materiais obsoletos etc.; limpeza dos canais de distribuição, após o ciclo de vida do produto; recall, em razão de devoluções por motivos legais ou por diferenciação do serviço aos clientes; substituição de componentes, para manutenção e consertos ao longo da vida útil de determinados produtos; programa de reciclagem; recolhimento de materiais perigosos ao ambiente e/ou às pessoas, exigido por lei, como é o caso de pilhas e baterias ou lixo hospitalar; recuperação de ativos em poder de clientes ou parceiros; fim da vida útil do produto, que será encaminhado a desmanche, reciclagem ou disposição final.
No âmbito ambiental, as relações sustentáveis vêm da lógica circular e o instrumento econômico e social é a Logística Reversa, caracterizado por um conjunto de ações e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou outros ciclos produtivos, reciclagem ou outra destinação ambientalmente adequada. Por enfatizar o potencial econômico do resíduo, ganha importância na preservação de recursos naturais e nos valores social, legal e cultural, integrando-se aos três pilares da sustentabilidade.
Os resíduos representam um grande impacto ambiental causado pelo atual modelo de negócios que os seres humanos utilizam. As formas mais comuns de lidar com o problema é por meio da incineração ou disposição em aterros sanitários. Ao considerar o Brasil, por exemplo, ainda há muitos locais de disposição de resíduos sólidos urbanos que funcionam de formam irregular sendo considerados aterros controlados ou lixões. Segundo o estudo da Associação Brasileira das Empresas de Tratamento de Resíduos Sólidos e Efluentes (Abetre), cerca de 60% dos municípios brasileiros utilizam lixões.
A recuperação das embalagens inclui uma série de processos envolvendo o transporte dos materiais em cada escalão da estrutura, armazenamento, reciclagem e incineração. O Cradle to Cradle (berço ao berço), é um livro escrito em forma de manifesto publicado em 2002 pelo arquiteto americano William McDonough e pelo engenheiro químico alemão Michael Braungart. O pensamento surge em oposição à ideia de que a vida de um produto deve ser considerada “do berço ao túmulo”, assim sendo, o princípio proposto tem como ideia central que os recursos geridos pelas industrias tenham uma lógica circular de criação e reutilização, agregando valor dentro do ciclo de vida do produto. Neste sentido, a preocupação transfere para os processos de retorno pós-venda e pós-consumo, consequentemente, uma nova operação de fluxo de retorno é agregada.
Figura 1. Cradle to Grave (esquerda) vs. Cradle to Gradle (direita).
O desafio encontra-se justamente nessa nova operação e retorno. As atividades logísticas absorvem uma parcela significativa dos custos envolvidos nos processos organizacionais (em média 25% das vendas e 20% do Produto Nacional Bruto – PNB). Por isso, é importante que se tenha um sistema de informações que possa atender a todos os requisitos que compõem sua estrutura, integrando-os de forma eficiente e respondendo com rapidez.
Existem diversas abordagens para identificar impactos ambientais e econômicos, advindos do descarte de resíduos e que vêm sendo estudadas, desenvolvidas e ampliadas a fim de evitar seu contato com o meio ambiente. Nesse âmbito, a Avaliação do Ciclo de Vida tem se tornado uma ferramenta de suma importância para o tomador de decisões dentro da Gestão Ambiental. A ISO 14040 da Gestão Ambiental, trata da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), em que trata de um estudo minucioso para identificação e mensuração da performance ambiental de um processo ou produto do “do berço ao túmulo”, com foco nos estágios em que há potenciais impactos ambientais (ABNT, 2014).
O benefício da ACV concentra-se em suas características, entre elas, a abordagem sistemática e a possibilidade de atualizações ao longo do processo como também de novas descobertas no processo da avaliação, transparência do escopo e qualidade dos dados, além de, buscar avaliações com base em metodologias científicas para tomada de decisões (ABNT, 2014). Ainda segundo a ISO 14040, avaliações fragmentadas de impactos ambientais causados por atividades especificas não colaboram para avaliações concretas. As oportunidades de melhorias ambientais devem ser analisadas de forma mais abrangente, considerando todo o processo. A metodologia usualmente é aplicada na logística direta, porém, muitos estudos direcionam a utilização e aplicação da metodologia nas atividades de retorno, sendo possível se ter uma mesma visão minuciosa na logística reversa.
A Logística Reversa operacionaliza o retorno de materiais após sua geração e sua revalorização e reinserção econômica, englobando um processo de conscientização do consumidor. Não necessariamente o retorno do material tem como finalidade, o retorno a cadeia produtiva.
O processo envolve planejamento, implementação e controle do fluxo de matérias-primas, estoque em processamento e produtos acabados e seu fluxo de informação do ponto de consumo até o ponto de origem, com o objetivo de recuperar valor ou realizar um descarte adequado. As atividades da logística reversa segue o mesmo modelo da logística direta. Porém, na logística reversa é essencial o entendimento de que o ciclo de vida de um produto não termina com a sua entrega ao cliente [1]. O diferencial encontrasse na obtenção de valor em um material que pode ser reinserido em um novo ciclo de vida, evitando a extração de recursos naturais.
As atividades de logística reversa incluem:
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O processamento do retorno de mercadorias por danos, sazonalidade reestocagem, salvados e excesso do estoque;
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Reciclagem dos materiais das embalagens ou reutilização de embalagens, recondicionadas ou manufatura dos produtos;
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Descarte de equipamentos obsoletos ou materiais perigosos;
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Recuperação do patrimônio.
A Logística Reversa pode ser observada perante três pontos de vista:
Ponto de vista logístico, parte do entendimento que o ciclo de vida de um produto não se encerra com a sua entrega ao cliente. Produtos que se tornam obsoletos, danificados ou não funcionam devem retornar ao seu ponto de origem para serem adequadamente descartados, reparados ou reaproveitados;
Do ponto de vista financeiro, há um custo relacionado ao gerenciamento do fluxo reverso, que se soma aos custos de compra de matéria-prima, de armazenagem, transporte, estocagem e mão-de-obra.
Do ponto de vista ambiental, deve ser considerado e avaliado os impactos do produto sobre o meio ambiente durante sua vida. O planejamento é crucial para que o planejamento da rede logística envolva todas as etapas do ciclo do produto [2].
Porém, na prática a necessidade da implementação da logística reversa na cadeia de alguns produtos decorrem das obrigações legais, por meio das legislações que regulamentam o descarte indiscriminado e incentivam a reciclagem ou retorno de dos materiais.
Áreas de atuação
Logística Reversa de Pós-venda é responsável pelo equacionamento e operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas do pós-venda que por diferentes motivos retornam a diferentes elos da cadeia de distribuição diária. Trata do planejamento, do controle e da destinação dos bens sem uso ou com pouco uso, que retornam à cadeia de distribuição devido às devoluções em período de garantia, avarias no transporte, excesso de estoques, prazo de validade expirado, entre outro. Já Logística Reversa de Pós-consumo trata dos bens no final de sua vida útil, tanto os com possibilidade de reutilização/reciclagem quanto os resíduos industriais. Os materiais do pós-consumo possuem característica de poder ter sua vida útil estendida, seja por meio do reaproveitamento ou por meio da reciclagem (LEITE, 2003).
VANTAGENS E DESAFIOS DA LOGÍSTICA REVERSA
A rede de retorno físico dos produtos de pós-consumo e pós-venda apresentam características diferentes do fluxo direto. Os canais reversos devem considerar que o fluxo de devolução é caracterizado por pequenos volumes de itens diferentes com frequência irregular.
Assim, é necessário haver planejamento e avaliação do processo logístico e dos materiais que retornam. A partir desse ponto, as empresas devem identificar as formas de coleta, triagem e distribuição dos itens para que o processo ocorra de forma eficiente e economicamente viável.
Ao mesmo tempo que o retorno ao ciclo produtivo é o foco da logística reversa, também se apresenta como maior desafio devido a sua operacionalização. A Coca-Cola, por exemplo, criou em 2018 o Programa “Mundo sem Resíduos”, tendo como meta encaminhar corretamente para coleta e reciclagem o equivalente a cada garrafa ou lata vendida, até 2030 [5]. A empresa tem como estimativa a venda de 3.500 garrafas de uso único por segundo, ou 470 bilhões por ano, sendo considerada a maior poluidora de plástico, segundo Global Brand Audit: Free From Plastic’s 2021, seguido pela Pepsico, Unilever e Nestlé. Porém com ressalvas de que o programa abrange locais onde existe infraestrutura para reciclagem.
Segundo a reportagem da BBC Brasil, desde fevereiro de 2021, nas Ilhas Samoa, a Coca-Cola parou de vender embalagens de vidro e desde então o número de garrafas plásticas vem aumentando consideravelmente. Por se tratar de arquipélago com uma população de aproximadamente 200.000 habitantes, a região não possui centrais de reciclagem. Assim, apesar do incentivo da empresa em pagar 1 dólar para cada quilo de embalagem coletada, até a data da reportagem nenhuma embalagem foi exportada para reciclagem devido à falta de logística para tal operação.
Obviamente, diversos outros produtos geram resíduos plásticos e que fazem parte do problema em um novo modelo de mercado. O exemplo supracitado, fornece uma boa noção da dimensão dos problemas dentro do modelo linear de desenvolvimento praticado há muitos anos. Por isso, é necessário realizar uma análise ampla do resíduo gerado e do volume estimado para a escolha do canal de revalorização, e assim, extrair o máximo de valor do material do material acoplado à uma logística eficiente.
“O lixo é um erro de design”: As etapas de planejamento de um produto são criteriosamente desenvolvidas visando a melhor utilização da matéria-prima, otimização dos processos para menor gasto de energia e então melhor conforto e praticidade para consumidor final. Inicia desde o planejamento e teste do produto, estruturação do design, as diversas formas de embalagem e as formas de embalar as embalagens para transporte, tudo com o objetivo final de economizar tempo, otimizar espaço e diminuir a utilização de materiais. Entretanto, todos esses esforços são focados na melhor praticidade e economia durante a produção até a entrega do produto, e nada é pensado a respeito do lixo resultante do consumo e da venda.
Por exemplo, muitas embalagens são fabricadas por materiais 100% recicláveis, entretanto, muitos designs impossibilitam que o processo de reciclagem ocorra devido a forma como a embalagem é desenvolvida, como embalagens de papel plastificadas, embalagens plásticas adesivadas, embalagens metálicas lacradas impossibilitando a fácil limpeza e separação de componentes. Designs que dificultam a reinserção dos materiais no ciclo produtivo. Não tem como falar de retorno de resíduos ao ciclo produtivo quando os resíduos não possuem viabilidade operacional para retornar ao ciclo produtivo ou o processo é moroso e complexo, o que consequentemente, podem gerar maiores custos e difícil implementação.
Exemplo: Embalagem de desodorante aerossol.
CANAIS REVERSOS DE REVALORIZAÇÃO
Os bens de pós-consumo têm seu envio tradicional á incineração e/ou aterro sanitário. Dentro dos canais de revalorização, esse material pode retornar ao ciclo produtivo e/ou de negócios por meio do desmanche, reciclagem ou reuso, prolongamento da vida útil.
Por sua vez, os bens de pós-venda retornam as empresas fabricantes e podem ter seus componentes e peças reaproveitados por meio do desmanche, remanufatura ou vendidos no mercado secundário.
Reuso e reutilização
Trata da extensão do uso de um produto de pós-consumo ou de seu componente, com a mesma função para a qual foi originalmente projetado.
Desmanche
É o processo de desmontagem de componentes de um produto, que ainda apresenta condições de uso ou de remanufatura. Os componentes que não são passíveis de reuso, são ainda separados entre os componentes que são passíveis de reciclagem.
Sendo assim, a revalorização ocorre com a remanufatura de componentes ou venda ao mercado secundário, ocorre também com a reciclagem de material dentro ou fora do ciclo produtivo do produto e então é apenas destinado para aterro sanitário ou incineração o material que não possibilita nenhum uso anterior.
Remanufatura ou recondicionamento
A remanufatura é realizada pelos próprios fabricantes de um determinado produto. Já o recondicionamento é realizado por terceiros. Tendo esta distinção definida, os canais de revalorização de remanufatura e recondicionamento busca o reaproveitamento de peças e componentes no mesmo produto.
A remanufatura realizará esse processo refazendo as peças e componentes com defeito, a fim de deixá-los com as mesmas características de fábrica. Já o recondicionamento, realiza a revalorização por meio de consertos, que podem alterar os padrões do fabricante, porém ainda restaurando as funções de um produto.
Reciclagem, Downcycling e Upcycling
A reciclagem por definição é um processo que permite que materiais de produtos descartados sejam incorporados novamente em um processo industrial, tornando-os matérias-primas secundárias para a produção de um novo produto. Para isso, os resíduos precisam passar por um processo de triagem contemplando os processos de coleta, seleção e separação, reciclagem industrial e então a reintegração da nova matéria-prima no processo produtivo. A reciclagem deve ser considerada em casos que a recuperação dos resíduos for técnica e economicamente viável, bem como higienicamente utilizável, e quando as características de cada material sejam respeitadas. Um exemplo bem prático é a reciclagens de garrafas PET (polímero termoplástico), que por se tratar de um plástico com estabilidade dimensional, fácil conformação, versatilidade de design e cores, fácil processamento, levando a alta produtividade e rendimento, custos competitivos, alta resistência ao impacto, segurança no manuseio e eliminação de perda no transporte, alta resistência a pressão interna, peso reduzido, levando a redução no preço do frete, totalmente reciclável. A reciclagem do plástico PET garante a fabricação de uma nova garrafa ou outra embalagem de mesmo valor.
O downcycling e upcycling se refere ao valor agregado na revalorização do produto. O downcycling é o processo em que se recupera o material, porém o processo de recuperação é comprometido por algum fator, não permitindo ser usado na fabricação do mesmo produto, e então é destinado para produção de produtos de menor valor. O papel é um exemplo clássico, em que apesar de ser um material 100% reciclável, ele não pode ser reciclado em papel do mesmo tipo, ou com as mesmas características.
Já o Upcycling, consequentemente, trata da reciclagem em que o valor econômico ou ambiental agregado é aumentado. Como por exemplo a utilização de madeira de pallets para confecção de móveis e decoração rústicos.
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